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25 de Abril e a liberdade que (dizem) ainda temos mas que já deve estar por um fio.

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Imagem da Net

Dizem que hoje é 25 de Abril e que, neste dia, em Portugal, se festeja o dia da liberdade. Dizem que hoje é feriado nacional e que, ainda que isso possa parecer-me um pouco extraordinário, algures no nosso pequeno território há quem ainda sinta a vontade genuína de celebrá-lo. Dizem que foi neste preciso dia que, num passado não assim tão distante, mais concretamente em 1974, o Movimento das Forças Armadas (MFA) pôs em marcha uma revolução militar que colocou um fim à ditadura Salazarista que já durava há mais de 40 anos. Dizem que foi uma revolução pacifica, que não originou nenhum derramamento de sangue e que esse factor foi determinante para que essa revolução ficasse conhecida como a "Revolução dos cravos". Dizem que a canção "E depois do adeus" cantada pelo Paulo de Carvalho, foi transmitida às 22h55m do dia 24 de Abril de 1974 pelos Emissores Associados de Lisboa como forma de código/senha para que fosse dada a ordem para as tropas ficarem mobilizadas e preparadas para atacar mal fosse dado o sinal efectivo de ataque, que, por sua vez, chegou até elas através da canção "Grândola, vila morena" cantada pelo Zeca Afonso que seria transmitida à meia noite e vinte minutos e dezoito segundos do dia 25 de Abril de 1974 pela Rádio Renascença. Dizem que Otelo Saraiva de Carvalho foi o comandante operacional da revolução que liderou todas as operações à partir do quartel da Pontinha e dizem que Salgueiro Maia foi o capitão que liderou a coluna militar de tanques que marchou de Santarém para Lisboa. Dizem que na altura dos factos o Presidente do Conselho de Ministros do Estado Novo, que sucedeu a Salazar em 1968, era o Prof. Marcello Caetano e dizem também que ele nem sequer era má pessoa. Muitos, inclusive, dizem...que ele era um homem muito excepcional. Por fim, dizem que o presidente deposto refugiou-se no quartel do Carmo mas acabou por render-se logo no 1º dia e que os destinos da nossa nação foram entregues ao General António de Spínola - que não era tão excepcional - e que, por ser tão bom presidente, desistiu deste cargo nem passados 4 meses depois. Dizem que aconteceram todas essas coisas e mais algumas que não mencionei aqui, mas confesso que, a cada ano que passa, sinto cada vez mais dificuldades em relembrar-me de tudo isso, de tal modo este acontecimento histórico se vê coberto pela indiferença e pelo manto do esquecimento de toda a Nação Portuguesa. Não sei a quem pertence a maior fatia da culpa, se é das escolas e do seu modelo de ensinamento que a cada dia que passa revela cada vez mais a sua tremenda ineficácia, se é dos pais e da educação que não são capazes de dar em casa, se é da Assembleia da Republica e das leis que não são capazes de aprovar por falta de entendimento ou do Governo e das politicas sociais que não ousa colocar em prática por medo da agitação social que isso possa criar, apenas sei que por este caminhar qualquer dia as gerações mais novas ainda vão entoar, que nem as músicas de um trovador numa praceta, que o 25 de Abril foi executado pelo Salazar para derrubar o governo do Spínola. Na sondagem realizada pela Pitagórica, que o Jornal de Noticias (JN) publicou hoje, já se tornou possível perceber o quão desligada a sociedade já mostra ser sobre todos os contornos deste assunto e de todas as verdades que o esforço de Abril deixou-nos em forma de herança, por ter libertado uma nação inteira do seu sofrimento, a única verdade que perdura hoje é que...temos feriado e, feito bem as contas, já só isso nos importa.

E porque hoje se falou tanto em liberdade...


...Como se fosse o Santo Graal da nossa existência e sem terem a menor noção do que ela quererá dizer...que tal a gente escutar a voz de quem goza os créditos de perceber alguma coisa do assunto? Um poema de Miguel Torga, talvez. É que, mesmo sabendo que hoje é o famigerado 25 de Abril e que por vias disso devemos sempre esperar todo os géneros de teatro, a verdade é que já me cansa a alma - mas sobretudo os tímpanos dos ouvidos - de tanto ouvir os nossos governantes e essa costumeira corja de políticos, todos eles falsos como Judas, a falar de liberdade como se ela fosse um valor sagrado indestrutível e indesmentível para eles e um estorvo desnecessário para os outros. Se prezam assim tanto o valor da liberdade, porque estão sempre a maltratá-la, amordaçá-la e a perpetuar no parlamento o coeficiente de Gini que fazem de nós os palhaços da Europa e nos coloca sempre no pódio das desigualdades sociais? Porque continuam a fazer de conta que a liberdade existe se na realidade ela nunca existiu? Não da forma como ela está a ser apresentada perante nós pelo menos. Liberdade é viver, não sobreviver! Liberdade é podermos seguir os nossos sonhos e acreditar na força do nosso mérito e não estudar anos e anos a fio numa universidade para depois irmos parar à caixa de um hipermercado, ou então sermos obrigados a deixar os amigos e a nossa família para trás por termos de emigrar a fim de criar algum valor. De que serve podermos falar o que quisermos se ninguém ouve a nossa voz? De que serve termos a liberdade de poder circular onde quer que seja se não pudermos ir para lado nenhum? De que serve o ensino ser "tendencialmente gratuito" se temos que pagar os manuais, material escolar e as custas todas da educação até completarem os 18 anos e muitas vezes depois disso? De que serve termos um carro se a porra da gasolina está sempre a subir para satisfazer os 63% de impostos que revertem a favor do Estado? De que serve termos um serviço de saúde considerado dos melhores do mundo se continuamos a ver pessoas andarem 30 ou 40 kilometros para conseguir uma consulta médica, outras que chegam a esperar muitas vezes 7 horas para serem atendidos nos serviços de urgências, mais aquelas que acabam por morrer nas intermináveis filas de espera para serem operados? Se tomarmos como referência um pais como a China ou a Correia do Norte, aposto que muita gente diria que somos um povo abençoado e livre, mas se olharmos para o que se passa no resto da Europa, aquela da qual supostamente fazemos parte, já se diria que continuamos a ser um povo escravo, discriminado e maltratado. Um país de nabos à beira-mar plantados que paga tudo aquilo que os outros europeus pagam mas que só recebe uma merda a que muita gente chama de salário, e não há pseudo-socialismos que consigam camuflar essa triste realidade. Dizem que o 25 de Abril trouxe-nos o direito à liberdade, mas eu digo que só nos trouxe a ilusão de sermos livres, e quem discordar...tem toda a liberdade de o fazer porque eu, pelo menos, respeito isso...


Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'