A soberba de ser grande...

"...O grande mal do benfiquismo é procurarem a todo o custo transmitir essa imagem falaciosa de serem homens honrados, bons pais e chefes de família, mas por vezes fazem-no com tanto entusiasmo que acabam por perder a honra e maltratar a família..."

Há alguns anos atrás, o Olympique De Lyon, liderado pelo fantástico e inigualável brasileiro Juninho Pernambucano, conquistou o inédito sétimo titulo - consecutivo - da sua história, tornando-se assim o primeiro clube francês a conseguir o feito de sagrar-se Heptacampeão Nacional, mas para os franceses passou a ser bastante consensual (e sei disso porque também estive lá e presenciei tudo) que o futebol francês estava nitidamente a morrer e que era preciso fazer algo para salvá-lo dessa tenebrosa fatalidade. Mais recentemente, ou, para bem dizer, mais concretamente este ano, quando para o espanto de todo o mundo o jogador português Cristiano Ronaldo decidiu trocar o Real Madrid pela Juventus, na Itália a sua chegada foi encarada como uma verdadeira oportunidade para o futebol daquele país se reerguer e recuperar todo o prestígio, audiências e interesse internacional que gozava até os anos 90 mas que acabou por perder-se nas últimas décadas, culminando nessa frustrante e fastidiosa monotonia de ver o clube de Turim sagrar-se também ele Heptacampeão Nacional (e já bem encaminhado para ser Octacampeão) sem que na Itália exista quem possa fazer-lhe oposição ou um concorrente suficientemente capaz de competir contra ele afim de quebrar esse ciclo vitorioso. Agora, porque Portugal sempre foi um reconhecido e incorrigível país de imitadores no que toca à toleima e burrice, surgiu agora o nosso bem conhecido Luís Filipe Vieira (LFV), presidente do Benfica a tempo inteiro e cómico em part-time, a revelar perante os seus associados que o "Benfica estava-se a preparar, nesta próxima década, para dominar o futebol português". Ou melhor dizer, tal como aconteceu na França e depois na Itália, o Benfica estava também a preparar-se para destruir o futebol português. E porquê dizem vocês? Muito simples. Seja qual for o país, não há nada de mais aborrecido e destrutivo para a imagem de qualquer modalidade desportiva do que ver sempre o mesmo clube a ser campeão todos os anos. Como é que eu sei? Porque sou um adepto simpatizante do FC Porto e bem sei aquilo que a conquista do Pentacampeonato me pareceu. Até o Tri foi bastante alegre e delicioso mas depois era como se já não existissem adversários à altura. Como se já fosse tudo favas contadas. Já não dava pica.
A triste realidade é mesmo essa. Quando um clube começa a ganhar vários anos seguidos o titulo de campeão nacional, a única imagem transmitida para o exterior é que naquele país já não existe um panorama competitivo. E onde não houver competição entre clubes, também não existe paixão. E onde não houver paixão, também não se gasta dinheiro, tornando-se um mercado pouco atraente para os investidores. Parece-me ser por isso bastante insensato e uma perfeita loucura que um clube queira exercer esse género de domínio naquela que é considerada a mais importante e rentável modalidade desportiva do nosso país. Ver o Benfica Heptacampeão de Portugal? Conseguem imaginar algo mais aborrecido? o Benfica só poderá realmente crescer se os clubes "rivais" forem igualmente grandes. Mesmo que houvesse (que duvido muito) 6 milhões de benfiquistas entre nós, acho que o tédio gerado seria tão grande que, no final, se calhar, uma parte muito expressiva já passaria a torcer pelo Sporting ou pelo Porto, só para que a Liga pudesse voltar a ganhar vida. E quem é que poderia aturá-los? O grande mal do benfiquismo é procurarem a todo o custo transmitir essa imagem falaciosa de serem homens honrados, bons pais e chefes de família, mas por vezes fazem-no com tanto entusiasmo que acabam por perder a honra e maltratar a família. Por isso, para o bem de todos nós, bons amantes do futebol, oxalá o LFV nunca consiga concretizar o seu objectivo. É verdade que no passado ele também disse-nos que se demitia se o Benfica não conseguisse chegar ao ambicioso número de 300 mil sócios e depois, mesmo não tendo conseguido,  negou-se a sair e acabou por ficar lá, fazendo com que a sua palavra passasse a valer muito pouco a partir daí, mas, ainda que isso seja contra a natureza da minha cor clubística, prefiro mil vezes que ele consiga cumprir a sua palavra de sair do Benfica apenas quando este fosse campeão europeu, porque o bom disso acontecer é que voltariam a colocar a fasquia bem alta e isso puxaria os outros clubes "grandes" a serem melhores do que hoje são para almejarem a ser campeões igual. E é este tipo de espírito que o nosso futebol sente falta e precisa realmente. Todos únicos, todos diferentes, todos adversários, todos sem igual, mas sempre competidores, sempre rivais, sempre todos a rumar para o mesmo lado, estimando aquilo que é nosso, e é de todos, para que no futuro o futebol português possa vir a ser melhor do que todos os outros.

Ps: Na hora em que escrevo este post o Benfica acaba de perder em casa contra o Moreirense por 3-1 talvez em jeito de prenda pelos 15 anos que o Luís Filipe Vieira está à frente do clube. Por isso, talvez também seja chegada a altura do "benfiquismo" perder um pouco da sua soberba, abandonar o mundo das nuvens e pensar voltar à terra para encarar as coisas como elas realmente são. Vamos-lá acordar antes que seja tarde. Por alguma boa razão a SAD do clube e alguns elementos da sua estrutura foram constituídos arguidos em consequência dos vários processos que decorrem actualmente nos tribunais...

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