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Aires Henrique do Couto Pereira, casado, 53 anos e presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim. Acho que devo alimentar um interesse qualquer por este homem, caso contrário, como seria possível para alguém que não vive na Póvoa e odeia o mundo da politica como eu, conseguir lembrar-me de coisas que este sujeito lembrou-se de fazer há vários anos atrás? Acho que é por ele ter aspecto de quem sabe fazer toda a gente de lorpa quando precisa sem deixar de manter aquele ar imaculado de politico honesto e honrado. Senão vejamos. Decorria o ano de 2013 quando, em véspera de Eleições Autárquicas e numa altura em que eu andava desempregado, desfolhava as páginas dos jornais todos da região à procura de uma boa oportunidade profissional ou qualquer uma que pudesse ajudar-me a colocar comida sobre a mesa e pagar as contas da casa. Certo dia chamou-me a atenção a noticia de um qualquer jornal (e que hoje voltei a encontrar
aqui) que dava conta, quase em letras garrafais, de que a PARFOIS (empresa multinacional portuguesa) tencionava instalar um centro de distribuição no Parque Industrial de Laundos, concelho da Póvoa de Varzim, após terem decorridos vários meses de intensas negociações com a respectiva câmara municipal. Nessa altura, surgiu no jornal a fotografia de um
Aires Pereira todo sorridente que prometia que o acordo estava para muito breve e que ele iria permitir a criação de 140 postos de trabalho num concelho bastante fustigado pelo desemprego. Como eu possuía uma vasta experiência no ramo da logística, vivia no concelho da Maia e tinha transporte próprio, e a distância até a Póvoa não me parecia um obstáculo assim tão difícil de superar, tomei imediatamente toda uma série de diligências a fim de agarrar aquela oportunidade de trabalho. Receando que o meu currículo vitae pudesse ficar esquecido na gaveta de um qualquer empregado calaceiro e, por vias disso, não me fosse dada a oportunidade de me apresentar, tomei a iniciativa de ligar directamente à PARFOIS e tentar promover a minha imagem junto deles para que me fosse dada a possibilidade de comparecer a uma entrevista. Qual não foi o meu espanto quando, do outro lado da linha, a menina simpática dos recursos humanos dava-me a garantia absoluta de que as noticias que circulavam nos jornais eram todas falsas e que a PARFOIS nunca teve intenções de instalar seja o que for no concelho da Póvoa de Varzim. Fiquei incrédulo, decepcionado e extremamente revoltado. Pode-se brincar com muitas coisas, mas não se devia brincar com quem vive no desemprego e procura uma forma de possibilitar o seu sustento. Enfim, é o mundo que temos e mesmo magoado com a falta de escrúpulos e as mentiras que o mundo da politica caga a toda a hora - e que eu já devia estar fartíssissimo de saber - segui a minha vida e esqueci o assunto...até hoje.
Julgava ter esquecido o assunto, de facto, mas porque estamos novamente em véspera de Eleições Autárquicas e nestas horas torna-se imperioso haver mais boas noticias colossais para encher as páginas dos jornais no sentido de conquistar simpatias e os votos dos eleitores, não é que um desses dias li na
Net que este citado senhor voltou a anunciar a chegada de outro gigante da logística, desta feita a MERCADONA que, coincidência do caraças, também escolheu o Parque Industrial de Laundos para albergar um centro logístico da famosa cadeia de hipermercados espanhola?. E para que vai servir essa plataforma logística? hein? hein? Sabem? Pois...esta é a parte mais engraçada da noticia porque, segundo a mesma, vai servir para abastecer os 4 supermercados que a MERCADONA planeia abrir em 2019 no norte de Portugal sendo garantido para já que 2 deles irão situar-se em Matosinhos e Gaia. Ora digam lá se isto não é um verdadeiro golpe de sorte para a Póvoa? E estes espanhóis devem ser mesmo estúpidos, diga-se também de passagem, por instalar um centro logístico tão afastado das suas reais necessidades. Com estas politicas de expansão e exploração de mercados, nem sei como é que eles conseguem ganhar tanto dinheiro e ser tão bem sucedidos naquilo que fazem...
Enfim, já sei que no mundo da politica todas as tretas são permitidas-desde-que-ninguém-se-lembre-delas para ganhar votos e, se calhar, o presidente da Câmara da Póvoa está apenas a demonstrar a sua auspiciosa faceta de bom politico. Mas se isto não passar de falsa propaganda, sinto apenas alguma pena que se esteja a brincar desnecessariamente com algo tão sério como o desemprego e aquilo que poderá vir a tornar-se o sustento de uma família. Hoje tenho emprego e sinto-me bastante abençoado e realizado naquilo que faço, mas num passado recente estive numa situação bastante delicada e acho errado encher as pessoas com esperanças infundadas de que existe terra à vista, uma solução no fim do túnel, e fazê-las caminhar numa direcção errada, levando-as a perder se calhar outras oportunidades menos interessantes mas mais reais (na expectativa de agarrar a melhor), sem falar do tempo desperdiçado e alguns recursos que poderão ser-lhes preciosos. É certo que, provavelmente, o sr
Aires Pereira irá ganhar as eleições na Póvoa - cenário esse que passa completamente ao lado do meu interesse - até porque é sabido que o povo português é muito criterioso nestas coisas e costuma sempre votar no candidato que oferecer mais calendários, Pins, réguas, porta-chaves e canetas (dizem que em Braga até já oferecem
chouriços). Tem sido assim desde sempre e duvido muito que alguém consiga mudar isso. Foi assim ontem, é assim hoje e não será num amanhã demasiado próximo que conseguiremos mudar o disco.