Chouriço ou não, eis a questão.

"Meia bola e força", ou "pontapé para a frente e fé em Deus". Se consultarmos o dicionário das "frases feitas", estas duas expressões significam ambas fazer algo desajeitadamente ou de qualquer maneira, confiando o seu sucesso apenas na sorte ou na providência divina, e, quando são aplicadas ao mundo do futebol, traduzem aqueles lances que tanto podem resultar numa bola lançada às nuvens, num falhanço de todo o tamanho, como também pode, em dias de extraordinária sorte, resultar num grande golo. Se resultar num falhanço, isto é, numa daquelas bolas que passam à 30 metros da baliza e vão parar ao 3º anel do estádio da Luz (como acontece na grande maioria das vezes), o jogador que rematou irá parecer um perfeito idiota aos olhos dos expectadores, sejam eles adeptos apoiantes da sua equipa ou seguidores da equipa adversária, mas tudo não passa disso, de um momento infeliz que as pessoas tratarão logo de esquecer poucos minutos depois. Mas quando resulta em golos, normalmente eles costumam ser sempre de belo efeito e tornam-se mais difíceis de esquecer, porque tudo o que parecer impossível de concretizar produz um certo efeito mágico nas pessoas, e é sabido que todas elas adoram acreditar em magia. E a prova disso é a quantidade de religiões que existe no mundo. Obviamente que para os jogadores e adeptos adversários, esses golos "de belo efeito" serão sempre vistos como se de um "chouriço", um piço, um frango ou um peru do guarda-redes se tratasse, mas para os adeptos da "casa" eles serão sempre considerados golos de antologia. Obras de arte ou obras primas, tanto faz. Ora, e foi precisamente isso que aconteceu com o jogador benfiquista André Almeida, no último tento que marcou para selar a vergonhosa goleada (6-2) que o Benfica infligiu ao Braga. No video que publiquei em baixo, que mostra a jogada do golo em causa, torna-se perfeitamente possível perceber que o jogador rematou por instinto, numa situação de total desequilíbrio, sem qualquer tipo de preparação nem objectividade, como se estivesse a puxar a alavanca duma "Slot Machine" num Casino e ficasse à espera que lhe saísse o Jackpot, e a prova disso é que mal desferiu o remate caiu logo para o chão tal era a sua posição de desequilíbrio, mas o que interessa é que a bola fez um arco esquisito e acabou por entrar na baliza, resultando assim num grande golo. Já não é a primeira vez que algo assim acontece com aquele jogador. No ano passado, quando jogou contra o Portimonense, lembro-me de vê-lo fazer um cruzamento sem nexo para a grande área com a intenção de servir um colega de equipa que estivesse bem posicionado para fazer golo, mas o cruzamento foi de tal ordem disparatado que fez a bola ganhar um efeito esquisito, traiu o guarda-redes e acabou por entrar na baliza. Ora, é evidente que tanto nesse jogo como no jogo contra o Braga, o André Almeida poderia voltar a ensaiar aqueles dois remates vezes sem conta, 100 ou 500 vezes por dia durante os próximos 30 anos, que nunca mais voltaria a marcar um golo assim. Ambos os golos resultaram unicamente da sorte e a sorte não se treina nem se pode contar com ela. Aparece - se quiser - e pronto. Alguns poderão dizer que a sorte também se procura, que ela protege os audazes e essa treta toda, mas nós por norma só dizemos essas coisas para incentivar as pessoas a serem mais pro-activas, a trabalhar para alcançar à "sua sorte", que é como quem diz, a procurar o seu lugar ao sol, porque é sabido que todo aquele que ficar parado, não quiser lutar por nada ou ficar à espera que a sorte lhe venha bater à porta, normalmente acaba por viver uma vida inteira sem nunca ter conquistado nada, e, muitas vezes, sem sequer ter vivido a porcaria de vida nenhuma. Mas sabem que mais? Nada do que a gente diz importa realmente. Para o André Almeida, a única coisa que realmente importou foi saber que a bola entrou na baliza contra o Portimonense e contra Braga, que foram produzidos grandes golos e que houve 6 milhões de benfiquistas que puderam testemunhar tudo isso. E será essa a imagem que ficará guardada para toda a eternidade. A ideia de que ele é capaz de marcar golos fantásticos quando se sente inspirado. Por isso, mais importante do que ser um bom jogador, do que ser dotado, do que fazer muitas fintas ou ter um bom pé para o remate, do quão bom se pode ser ou da capacidade de trabalho que se pode ter, é procurar estar sempre no sitio certo na hora certa...e rezar para que a sorte esteja sempre do nosso lado.


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A frase mais estúpida que poderá ser dita aqui é: "Para Pensador pensas pouco..."
A mais inteligente é: "És tão lindo Pensador..."