Cavaco Silva
discursou no passado sábado em Castelo Branco, nas comemorações de 10 de Junho, e apelou aos jovens para que regressem aos campos e ajudem a repovoar o interior de Portugal.
Enalteceu, em seguida, a existência de cerca de 220 mil agricultores espalhados pelo nosso país que desde há vários anos recebem subsídios atribuídos pela CEE para não produzir colheita nenhuma em suas terras
(sendo-lhes apenas exigido que mantenham as terras "Agricultáveis"), coibindo-se de explicar no entanto, quais eram as responsabilidades do Governo nesta matéria e as razões que os levaram a promover essa situação. E já agora...deviam explicar também a razão de só se lembrarem desses tais 220 mil agricultores nesta altura do campeonato quando é sabido que esta crise já nos assola há quase uma década.
Acho bem que haja vontade politica para patrocinar o regresso dos jovens aos campos, principalmente quando o país atravessa uma fase muito difícil e continua a dispor de um grande potencial
(abandonado) nessa área, forçando-o a importar de outros países para suprir inteiramente as suas próprias necessidades de consumo. Entendo perfeitamente e acho bem que haja investimentos nesse domínio, mas receio mesmo que a pior tarefa seja convencer os jovens.
Vamos ser realistas, poderá até haver quem fique interessado em apostar na Agricultura e aproveitar os benefícios que vão ser entretanto concedidos pelo Estado, mas os grandes problemas irão surgir quando essa gente precisar de contratar mão de obra para tratar das suas colheitas.
De que serve repovoar uma zona com alguns empresários/trabalhadores se não existir na região outra mão de obra que esteja disponível para ser contratada quando surgir os grandes picos de trabalho?
Hoje, quando se fala de um regresso aos campos, estamos também a pensar nos pais, certo?
Sim! porque os filhos, esses, nunca conheceram o trabalho do campo, logo, dificilmente poderão ser considerados como parte interessada neste processo, porque só com uma dose montanhosa de optimismo é que consigo imaginá-los a trocar o seu emprego - limpinho - de "caixa" num qualquer Pingo Doce por um trabalho duro e penoso de enxada na mão. Ainda por cima, o trabalho no campo é visto pela sociedade em geral como um trabalho parolo, logo, como podem ver, é tudo a ajudar.
E depois temos mais um problema acrescido, que é a imigração. É sabido que, pelas nossas bandas, confia-se cada vez menos nos patrões portugueses, e, entre um regresso aos campos e uma aventura de 5 ou 10 anos num qualquer país estrangeiro, o jovem opta sempre pela imigração. E fá-lo por 2 motivos bem distintos. Primeiro porque "lá fora" as empresas são mais pagadoras e não são preconceituosas nem ressabiadas
(como as "nossas") quando se trata de valorizar e reconhecer o trabalho das pessoas
(através de aumentos salariais, entenda-se). Segundo, porque a vida do campo é um trabalho muito duro e sujeito, e, ao contrário do que sucedia nos velhos tempos Salazaristas, as pessoas hoje deixaram de viver para o trabalho e trabalham para viver. Sim, por mais que algumas pessoa não queiram aceitar, o tempo da escravidão já há muito que acabou.
Escravidão? Ó Pensador, também não achas que estás a exagerar um bocadinho?
Digo-vos que não.
Prestem só atenção a este
artigo que foi publicado no DN Portugal em 2009 e do qual tomo agora a liberdade de retirar estes dois enxertos que julgo serem importantes.
«..os 450 trabalhadores que nos últimos dois anos trocaram as comunidades rurais da Tailândia pelos campos agrícolas de Portugal fizeram-no por um salário em muito superior ao que recebiam. Mesmo que para realizar o sonho de uma vida melhor seja necessário atravessar o mundo deixando mulher e filhos a milhares de quilómetros de distância, trabalhar de sol a sol, sem feriados nem fins-de-semana, e dividir com mais seis ou sete pessoas uma casa com condições de higiene precárias...»
«.."Vir para a Europa é uma boa solução para eles." Sobretudo quando em cima da mesa está um salário mensal de 450 euros - cerca de 10 vezes mais do que aquilo que receberiam na Tailândia...»
Leram bem? ou ainda estão a esfregar os olhos, incrédulos com aquilo que acabaram de ler?
Este artigo foi publicado em 2009, mas dois anos se volveram e as condições de trabalho continuam exactamente as mesmas. Aliás, desta vez estou a mentir, a verdade vive acima de tudo e nunca devemos lhe faltar nem que seja só por um minuto. O salário que em 2009 era de 450 Euros, passou agora para 485 Euros fruto da subida legal do ordenado mínimo. Pronto, agora a verdade está toda reposta.
Tem graça porque há dias li, numa entrevista concedida ao JN, o desabafo revoltado de um destes "exploradores" de morangos, que se queixava, entre outras coisas, da suposta "mania das grandezas" dos portugueses que, em tempos de crise, não aceitavam os trabalhos de merda que ele oferecia
(bem...ele não mencionou o termo merda, isso foi eu que acrescentei) , como por exemplo, trabalhar 8 horas diárias a apanhar morangos no chão com o sol a bater nas costas e tudo isso em troca do salário mínimo. "Dos 100 que me foram enviados pelo Centro de Emprego, só um quis ficar" exclamou ele horrorizado. Hahahahaha....este tipo está mesmo a precisar de umas boas férias e de redescobrir o prazer de fazer sexo
(na mulher dele de preferência), é que esta história de morangos está-lhe a queimar o cérebro e a pila.
O que pretendo dizer , agora em jeito de conclusão, é que esta atitude demonstrada pelos Tailandeses, personifica precisamente aquela que os Patrões esperavam
(e esperam) recolher dos portugueses quando cozinharam, entre eles, esta crise de trabalho que assola o nosso país e muitos outros, mas com particular incidência no nosso. Julgaram mesmo que esta crise de trabalho surgiu por acaso? hahahaha...se está visto que eles são ingénuos no que toca a avaliar o nosso orgulho, não cometam o erro de fazer o mesmo em relação à dimensão da ganância deles.
Estavámos a ficar todos muito mimosos e "importantes" para o gosto deles, percebem onde quero chegar?
Eles tinham que fazer algo em relação a isso...
A minha trollitada:
Trollitas - Pensador, o Cavaco Silva pediu aos jovens que voltassem para os campos e repovoassem o interior do país.
Pensador - E depois? Não foi ele que também pediu aos Portugueses que fossem todos votar nestas últimas eleições legislativas e em troca recebeu um recorde de abstenções?
É para saberes o valor que o pessoal dá à palavra dele.
Trollitas - Realmente...