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Decorreu durante esta semana uma
discussão bastante
relaxante no site do Shiuuuu. Digo relaxante porque o assunto tinha a ver com com o consumo de "Charros" e achei que fazia todo o sentido aplicar um termo alusivo ao tema para iniciar este texto. Sei que muita gente não irá achar piada nenhuma ao que vou dizer de seguida, até porque desconfio que o hábito de fumar "ganza" acompanhou o crescimento/evolução da moda das tatuagens e já esteja bastante entranhado na população, mas, na falta de melhor, podem sempre culpar o meu sentido de humor delirante (hahaha...delirante→delírio, mais um termo fulminante). Para começar, devo dizer que, para mim, o consumo da cannabis não representa outra coisa senão mais uma maneira de combater o tédio. Sim o tédio, esse maldito sacana que teima acossar a nossa alma e perseguir-nos pela vida fora. E por ser uma droga, ainda que das mais leves, não consigo ver muitas diferenças entre esta e qualquer outra droga que se conheça e que seja capaz de criar uma dependência no individuo, inclusive o hábito de consumir álcool excessivamente. Nasceram todos da mesma necessidade (matar/combater o tédio, a dor ou a depressão) e servem todos o mesmo propósito; Relaxar, aliviar, acalmar, sonhar, libertar o espírito, dizem alguns. Deixem de ser nabos digo eu.
Engraçado que quando me falam dos "charros" penso logo em 2 pessoas minhas conhecidas que, mais ou menos directamente, e que, feliz ou infelizmente, fazem ambas parte da minha vida. A primeira trata-se do meu irmão mais novo que vive em França. Com 40 anos continua solteiro, mora sozinho e nunca conseguiu arranjar uma namorada sequer. Aos 18 anos descobriu a "ganza" e passados poucos anos surgiram os primeiros sintomas de esquizofrenia. Começou a ver e a falar com diabos, anjos, Deus, o rei Neptuno e a pequena sereia, o Deus Júpiter, a minha mãe falecida, a virgem Maria, os 12 apóstolos de Jesus Cristo menos o Judas que não podia ser contactado por ter manchado a sua honra, passou a jogar cartas com Osiris, o Kennedy e o Ghandi, e a debater com eles o futuro da humanidade, enfim...uma desgraça para a vida dele e um sofrimento para quem era da família e se importava com ele. Por sofrer dessa doença e de todos esses transtornos psicóticos que lhe são adjacentes, o meu maninho nunca conseguiu levar uma vida normal e todas as pessoas normais que conhecia rapidamente se afastaram dele, menos alguns vadios - tão ganzados como ele - que achavam que ele era uma espécie de profeta e levavam-no com eles como amuleto da sorte quando se dedicavam a assaltar casas durante a noite para sustentar o vício. No inicio ainda tentei dar-lhe uma mão e chamar-lhe à razão mas a convivência com ele era insuportável. Não só porque o seu discurso não fazia sentido nenhum mas sobretudo porque debitava demasiado ódio pela sociedade em geral, a qual enfermava todo o tipo de demónios, bruxas e malditos, e ficava irritado sempre que se via contrariado por alguém (inclusive eu) por achar que tinha um dom e que nós só tínhamos inveja de não ser como ele. Era a prova materializada de que até o mais maluco dos homens se acha mais esperto que todos os outros à sua volta e que a razão lhe assiste sempre. É também a prova de que nenhum de nós, quando confrontados com o espectro da maluquice, pode confiar na sua própria sanidade mental.
A segunda pessoa é o meu vizinho Golias (nome fictício). Digo Golias porque o tipo é um verdadeiro brutamontes que fuma cerca de 4 ou 5 charros por dia (que eu veja) e não tem juízo nenhum naquela cabeça. Casado e pai de 2 filhos menores, Golias já correu uma vintena de empregos e actualmente está outra vez desempregado. Golias não é esquizofrénico mas também sofre de um problema aborrecido. É muito esquecido e não consegue concentrar-se de forma alguma, prejudicando-o obviamente em qualquer trabalho que faça. O seu problema leva-o a esquecer praticamente tudo à sua volta. Seja os compromissos que assumiu, a filha que tinha de buscar à escola, o telemóvel em casa quando está no café ou no café quando está em casa, as chaves do carro, o Ipod, o Tablet, os auscultadores, a carteira com dinheiro por cima do balcão, enfim, só não esquece a cabeça porque está agarrada ao pescoço. Golias diz que não foi sempre assim, que só ficou assim depois de casar e que isso tem piorado com o passar dos anos, e quando um dia lhe perguntei se não coincidiu mais ou menos com a altura em que ele começou a fumar regularmente a quantidade de charros que fuma hoje ele responde que sim mas diz que não tem nada a ver uma coisa com outra, que é apenas coincidência. Tão coincidentes como as respostas de quem vive em negação, e que, para além de habituais, são sempre parecidas umas com as outras. Referi esses dois exemplos mas de uma maneira geral todas as pessoas que eu conheço que fumam charros revelam algumas anomalias psíquicas e/ou comportamentais. Dizem, mas pode ser apenas um mito urbano, de que há exemplos de pessoas bem sucedidas que consomem regularmente esse tipo de drogas mas, no que me diz respeito, não conheço um único individuo que tenha a mioleira a funcionar em condições quanto mais serem bem sucedidas na vida.
E essa é a única impressão que guardo sobre o assunto. Quem procurar mais a fundo, descobre facilmente noticias como esta
aqui que dão conta de alguns estudos feito pelo mundo fora, por entidades credenciadas, que comprovam os malefícios de fumar charros, os efeitos nocivos que provocam no cérebro e a sua estreita relação com o surgimento de psicoses e transtornos psicóticos diversos como é o caso da
esquizofrenia. Acredito que a maioria destes estudos possam passar completamente ao lado que quem seja dependente da Cannabis, seja porque entram em estado de negação como é o caso do meu amigo vizinho seja porque na hora de ler este tipo de artigo na forma de jornais ou revistas eles preferem utilizar as folhas para enrolar um charro, perdendo assim a oportunidade de tomarem consciência da merda que andam a meter nos pulmões. Já fui fumador de tabaco no passado (3 maços de tabaco por dia) e sei como é difícil largar um hábito tão enraizado no nosso corpo mas por ter largado o vício e ter passado por tudo isso acho-me no direito de considerar-me a prova visível de que tudo é possível com apenas força de vontade e querer. No mínimo, acho essencial combater certos chavões manifestamente infantis de que os consumidores desta droga tendem a ser mais criativos, independentes e livres, como vi alguém comentar no
Shiuuuu e quase fez-me cair da cadeira de tanto rir, porque qualquer pessoa que esteja viciada no consumo de uma droga acaba por ser ser escrava dela, logo, essa pessoa jamais poderia considerar-se livre.