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E um mês depois do grande incêndio que matou 64 pessoas, feriu mais de 200 e destruiu várias casas em Pedrógão Grande, e de acordo com a denúncia feita pelo programa "Sexta às 9" da RTP, parece que existem cerca de 13 milhões e 200 mil euros em donativos provenientes de fundos solidários diversos que estão retidos em contas bancárias, geridas por 7 entidades diferentes, à espera de um plano qualquer para gerir a distribuição dessas verbas no terreno (REVITA). O Secretário de Estado da Coesão e Desenvolvimento, Nelson Souza, garantiu ao canal público que o dinheiro iria começar a ser distribuído no final deste mês de Julho mas tratando-se de uma figura politica é sabido que toda a informação debitada por esta carece de precisão e verdade factual, porque, para além de fazerem constantemente promessas que depois não sabem cumprir, os políticos tem sempre a mania de omitir o ano de aplicação das medida que prometeram aplicar já com o intuito de terem uma desculpa para o caso de falhar. Por isso, mesmo que Nelson Souza tenha indicado o mês, esta informação é de todo irrelevante até que ele indique também o ano em que as ajudas irão chegar a Pedrógão Grande (que deverá ser lá para 2000 e troca o passo se não me engano). Para provar a falta de confiança que o país nutre nas capacidades (e boas intenções) dos seus governantes, está o facto de haver várias instituições de renome que decidiram avançar sozinhas na aplicação do dinheiro que vão doar e não quiseram ter nada a ver com o fundo de solidariedade organizado pelo governo. Como bom exemplo disso temos a União das Misericórdias Portuguesas e a Cáritas de Coimbra que já estão a canalizar as suas ajudas no terreno mas também o BPI que vai doar o dinheiro directamente à autarquia de Pedrógão Grande e a RTP que vai ajudar a Santa Casa da Misericórdia local. Acho esta atitude muito bem pensada da parte destes últimos já que dessa forma há pelo menos a garantia de chegar algum dinheiro para ajudar aquela pobre gente. É que se estiverem à espera que haja celeridade do governo, os habitantes de Pedrógão vão morrer todos pobres e secos que nem um pau, coitados. Não é por acaso que o dinheiro está retido em contas. É que depois de deduzir os respectivos impostos, a taxa de ocupação (das contas, também ocupa espaço não?), uma qualquer outra taxa parva de emergência ou coesão nacional, as despesas de manutenção, a criação e elaboração do projecto REVITA, os salários dos profissionais ligados ao projecto (inflacionados em 1000 por cento pelas vias de...), os estudos de impacto ambiental, a prospecção no terreno, o levantamento das necessidades junto da população, gastos de transporte e alimentação em bons restaurantes da região para os governantes, os amigos destes, e também os parentes e família até o 5º grau, enfim...quando eles acabarem de fazer as contas todas, desconfio que, dos 13 milhões e 200 mil euros de ajudas que a região devastada pelos pelos incêndios deveria ter direito, a única quantia que irá conseguir lá chegar vão ser os 200 mil. Ou alguém tem dúvidas disso?
Custa é conhecê-los, porque depois de os conhecer...
Tenho consciência que as vítimas do incêndio necessitam de apoio o mais rapidamente possível. Mas estamos a falar de uma intervenção muito vasta e que envolve várias circunstâncias. Não se trata de dar dinheiro e acabou-se o papel do Estado. Também não se pode dar o dinheiro sem mais. Como é que se faz? Divide-se o dinheiro pelo número de vítimas, entrega-se e já está? Isto é, há vítimas que tinham seguros e terão que ser as companhias a indemnizar. Depois há aqueles que perderam uma 2ª habitação (entenda-se, casa de férias). Terão a mesma prioridade que aqueles que perderam a casa de família? Penso que não? Depois há outras questões. Todos falam na necessidade de uma organização florestal diferente. Será que todas as casas vão poder ser reconstruídas no mesmo local? Penso que só podem, e devem, avançar com aquelas situações em que não há dúvidas que possam avançar. Passaram 30 dias e algumas trâmites legais já estão bastantes avançados nomeadamente aqueles que envolvem as seguradoras. Não sou tão pessimista como tu de que o dinheiro se vai esgotar em estudos, técnicos e afins.
ResponderEliminarAliás, e assumo o que escrevo, neste momento confio mais no Estado do que em algum jornalismo que se vai fazendo. É muito fácil dar apenas uma versão dos factos.
Beijos
Nina, faço-te apenas uma pergunta. Historicamente, Portugal tem alguma tradição de sucesso, honestidade e transparência na aplicação de fundos solidários, comunitários ou qualquer que seja o seu tipo? Ou temos a tradição de fazer precisamente o oposto? De comer, desviar, estragar e desbaratar tudo?
EliminarBjs
Temos alguns casos, sim. Dou-te um recente: revitalização de Vila D'Este. Sabes, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa temos excelentes técnicos no Estado que vestem a camisola e que servem a causa pública. Mais curioso é saber que a maioria de desvios aos fundos comunitários e similares são feitos por entidades privadas e/ou particulares (obviamente com a conivência de alguns - felizmente poucos - técnicos do Estado). Mas é sempre mais fácil criticar o Estado que para muitos é uma entidade estranha e sem rosto, esquecendo que o estrado somos todos nós.
ResponderEliminarVila D´Este, estamos a falar daquela urbanização que foi construída nos anos 80 através de um programa do "Fundo de Fomento de Habitação" promovido pelo Estado com o intuito de facilitar a aquisição de habitação própria para quem tinha poucos recursos e que 20 anos depois foi revitalizada através da FEDER com uma factura que ultrapassou os 12 milhões de euros? Cometer grandes asneiras e depois corrigi-las poucos anos mais tarde a um preço bastante inflacionado? sim, o nosso país também tem muita tradição de fazer isso.
EliminarE sabes dizer qual foi o preço real da obra? Oficialmente foi 12 milhões mas...e oficiosamente? Bem sabes como as coisas funcionam com os fundos comunitários. Uma pá custa 5 mil euros, uma pica 10 mil, um saco de cimento 500 euros, uma janela de alumínio 20 mil euros, etc etc.
Não são os técnicos do estado que me preocupam porque esses geralmente tem valor e só fazem o trabalho deles, são sim esses políticos e governantes de meia tigela que recebem os fundos da CEE e depois canalizam-nos como bem entendem para o terreno, ajudando os amigos a ficar com os contratos e a inflacionar o preço das coisas para que depois também possam comer à custa disso. Ou por outras palavras, todo esse compadrio aberrante. Não custa nada gastar o que não é nosso, sobretudo se sabemos de antemão que parte daquilo que se gasta também vai ser nosso no final.
Não, Vila D'Este não começou por ser um programa do Fundo de Fomento de Habitação promovido pelo Estado. Passou a ser quando a construtora faliu e a Caixa Geral de Depósitos ficou com o menino nas mãos. Mas é uma longa história...
ResponderEliminarQuanto ao programa que mencionei e que custou 12 milhões, bom, presumo que saibas quantas habitações tem a urbanização. E também presumo que saibas que tipo de intervenção foi feita. Se dividires os 12 milhões pelo número de habitações que compõem a urbanização, chegas à conclusão que, afinal, uma janela de alumínio não custou 20 mil euros porque nem metade desse dinheiro coube a cada uma das habitações.
:)
Beijos
Segundo sei foram 2085 habitações privadas e 76 espaços comerciais. Sim, tens razão. Ainda assim custa-me um pouco perceber como foi conseguido receber dinheiros comunitários para revitalizar espaços privados.
EliminarBjs