Os pequenos instantes da Paz e da Guerra...

"A vida é feita de instantes. Num instante se faz a paz e noutro instante se faz a guerra...e há aquele instante em que o mundo não reconhece nenhum desses dois"

Dizem que a Coreia do Norte e a Coreia do Sul voltaram a apertar as mãos e fizeram as pazes. Dizem, sim, mas será que devemos confiar nisso? É que nem sempre um aperto de mãos traduz um cenário de paz e nem sempre uma vontade de paz se resolve num aperto de mãos. Desde a famosa guerra que ocorreu naquela península entre 1950 e 1953, cerca de 2 anos após a divisão das duas Coreias, que aqueles dois países nunca mais se entenderam e tornaram-se inimigos mortais. Eram duas correias desengrenadas cujo movimento libertado por cada uma delas era influenciado por forças externas muito distintas que designaram aquela região como um ponto chave para travar uma espécie de jogo de poder geo-politico. O Norte recebia o apoio da China e da extinta União Soviética comunista e o Sul recebia o apoio dos Estados Unidos da América. Naquele tempo era assim, tudo servia de pretexto para haver uma disputa entre comunistas e democratas - como aqueles miúdos que gostavam de mostrar a pilinha na escola para saber qual deles tinha a maior -, mas como nenhum dos dois desejavam a guerra nem tinham coragem para dar o primeiro tiro já que ambos tinham poder atómico suficiente para se destruírem um ao outro, criavam estes "conflitos" para fazer demonstrações de poder e assumir posições estratégicas em vários pontos do globo terrestre. A divisão entre as duas Coreias não foi nada mais nada menos senão uma réplica quase tirada a papel químico da situação ocorrida na Alemanha após a guerra de 1945 que dividiu o país em dois e que culminou na criação da RFA - República Federal Alemã (Alemanha Ocidental - Democrata) e da extinta RDA - República Democrata Alemã (Alemanha Oriental - Comunista). E como foi tirada a papel químico, o resto da história também é muito fácil de adivinhar. Durante vários anos, fruto da recuperação económica que os países do mundo inteiro tentavam fazer após o fim da 2ª Guerra mundial, as duas Coreias tiveram uma evolução parecida, mas a partir dos anos 80 a Coreia do Sul, tal como sucedeu à RFA, apoiada pelos investimentos e ensinamentos capitalistas americanos, caminhou a passo de galope em direcção ao sucesso, progresso e modernismo, que a levaram a ser hoje uma das 15 maiores economias do mundo, e a Coreia do Norte, tal como sucedeu na RDA, enquanto vassalo dos comunistas, continuou a caminhar a passo de caracol com uma evolução muito abaixo do seu potencial, depois parou de crescer e deixou-se ficar para trás, estagnou durante largos anos, e acabou mesmo por regredir até tornar-se no parasita que se conhece hoje. O mais engraçado é que, tal como a RDA, apesar de viver debaixo da alçada de um regime autoritário e opressor, o nome verdadeiro da Coreia do Norte é "República Popular Democrática da Coreia". É verdade, parece que estamos perante o conceito democrático mais estranho jamais visto até hoje. Já o Charles Bukowski afirmava que a diferença entre uma democracia e uma ditadura é que numa democracia temos a liberdade de podermos votar antes de sermos obrigados a obedecer às ordens. Assim, talvez a dinastia dos "Kim's" fosse particularmente sensível aos recitais coloquiais do Bukowski, que apreciava relacionamentos baratos e uma vida recheada de álcool, e quando percebeu as reais necessidades da sua população, sentiu o seu apelo e acabou por afastar dela o fardo de ter que ir às urnas considerando apenas produtivo a parte do ter que "obedecer às ordens".

Bem, o que é certo é que ultimamente tudo parecia estar a correr mal e o mundo ameaçava mergulhar novamente no abismo. Como resultado de várias décadas a viver em total sacrifício e das centenas, milhentas ou trilhentas sanções económicas impostas à Coreia do Norte pela ONU (Organização das Nações Unidas) devido às violações sucessivas que ela perpetrava contra os direitos humanos, o governo de Pyongyang começou a desenvolver um programa nuclear de modo a criar armas argumentos capazes de sacudir a pressão internacional existente à volta dele e, suspeito, fazer com que pudesse também deixar de ser tão subserviente face à China. O certo é que ela foi tão determinada e persistente no seu objectivo que acabou mesmo por ser bem sucedida. Construiu a sua "Bomba nuclear" e, como se não bastasse, quis demonstrar que o seu poder militar não tinha apenas um alcance regional mas também uma visão global, com recados óbvios para a América. O resto já todos nós sabemos, foi aquilo que temos assistido até agora. De um lado tínhamos o grande líder Kim Jong-Un, também conhecido por "Rocket Man", a testar os seus misseis e a mandar toda uma série de provocações aos países vizinhos, criando grande tensão na região, e do outro tínhamos o nosso Pato "Donald", também conhecido por Donald Trump, a esfregar as mãos de contente perante a possibilidade de poder enriquecer às custas da Lockheed Martin, da General Dynamics e restante indústria bélica americana. Uma guerra só pode ser travada com armas e a América tem pelo menos 12 empresas fabricantes delas por sustentar, caso contrário...o mundo se calhar não teria guerras. Também em jeito de provocação, o nosso "Pato" tratou logo de lançar um novo pacote de sanções e mandou o porta-aviões nuclear norte-americano "Carl Vinson" e outros navios de guerra fazer exercícios militares na península da Coreia para ferir ainda mais o orgulho norte-coreano e levá-lo ao desespero de ter de ser ele o primeiro a atacar - para depois poder ripostar em jeito de legitima defesa -. Acho inclusive que houve um momento em que o mundo já estava a consciencializar-se de que não havia outro modo de conseguir resolver esta ameaça e já só esperávamos saber quando é que seria dado o primeiro tiro para que as hostilidades pudessem ser abertas. E quando tudo previa uma guerra...eis que surgiu um sinal de paz da parte daquele que menos se esperava. A Coreia do Norte, e dizem que é uma paz bem intencionada e verdadeira. Dizem...e eu acredito que seja verdade.

Imagem da net

Primeiramente devo dizer que acho absolutamente patético aquilo que a comunicação social está a tentar fazer actualmente, tentando eleger o Pato Donald como grande responsável deste volte-face a ponto de querer sugerir o nome dele para Nobel da Paz. Eu sei que o Pato vai fazer de tudo por tudo para assumir o papel de grande protagonista desta história de amor ressuscitado mas, se isso viesse a acontecer, seria uma hipocrisia tremenda, uma ofensa e um erro extremamente grosseiro que mancharia a galeria das pessoas integras e honradas que ganharam esse prémio. Donald Trump é responsável sim, mas não pelos motivos que se conhece. Foi o facto de ele ser tão insensível e maluco que incentivou as duas Coreias a voltarem-se de novo uma para a outra. Talvez haja quem me queira apelidar de sonso ou anjinho por estar a dizer isto mas eu acredito que a Coreia do Norte tenha desejado desde sempre essa paz, mas como vivemos numa sociedade cuja subjectividade dos habitantes é constantemente excitada pela panóplia de emoções impactantes que os "mídia" tentam sempre provocar nas pessoas e pela verdade que muitas vezes eles se coíbem de revelar, é natural que esta minha afirmação possa parecer-vos um perfeito disparate. Isto é conforme a inclinação do campo. A Coreia do Norte está para o mundo civilizado, como o FC. Porto está para os benfiquistas a verdade desportiva do mundo do futebol, e ai de quem ousar rebater essa ideia. Uma verdade por vezes pode tornar-se aborrecida quando ela trabalha contra nós e, no meio jornalístico, costuma-se dizer que nunca devemos deixar que uma verdade possa estragar uma boa história. Mas a verdade, porém, feliz ou infelizmente, é que há muito mais a conseguir unir as duas Coreias do que aquilo que consegue separá-las. Partilham o mesmo nome, falam a mesma língua, tem a mesma cultura gastronómica e ocupam o mesmo território (península). Ou por outras palavras, apesar das diferenças, nunca deixaram de ser irmãos. E por serem irmãos, sofriam ambos do mesmo mal de família. O orgulho. Assim, acho que esses dois países sempre quiseram fazer as pazes mas nenhum dos dois queria fazê-lo na condição de nação derrotada. Ambas queriam fazê-lo de cabeça erguida, sem medos e sem o sabor da espada encostada à garganta. Foi por isso que a Coreia do Norte desenvolveu o seu programa nuclear. Ela queria ter a possibilidade de poder olhar nos olhos dos seus inimigos de igual para igual e provar ao mundo que tinha condições para arrebentar com ele se tal fosse o seu desejo. E tinha na verdade, ou se não tinha, pouca faltava para ter. E é também por isso que eu acho que esta nova aliança formada entre os dois tem todas as condições para dar tudo certo. Desde que não falte o pão...nenhum dos dois negará ao outro a sua razão. O jogo do poder passou a contar com um novo jogador. Agora que o Kim Jong-Un tomou consciência do seu poder no mundo, já não precisa de se esconder nem de temer mais ninguém à sua volta. Agora que o Kim tomou consciência do seu poder...chegou a hora de reclamar o seu lugar por direito na mesa das nações poderosas, para deixar finalmente de ser visto como um peão e passar também ele a brincar com os destinos dos outros.

Dizem que a Coreia do Norte e a Coreia do Sul voltaram a apertar as mãos e fizeram as pazes. Dizem...e estaremos todos aqui para ver até quando ou até que ponto isso se tornou verdade...

1 comentário:

  1. Numa semana misseis apontados na outra braços no ar de mãos dadas
    Abraço
    Kique

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A frase mais estúpida que poderá ser dita aqui é: "Para Pensador pensas pouco..."
A mais inteligente é: "És tão lindo Pensador..."