O divino Pensador...

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9H30 da manhã, mais coisa menos coisa. Numa aldeia pequena mas ainda assim bastante povoada e muito civilizada escondida algures no litoral de Portugal, há um individuo (mais um), de puro sangue português pela certa (mais ninguém se lembra de fazer coisas assim), que, para poupar tempo e recursos e dar azo à sua reconhecida faceta de campeão, se julga capaz de atravessar um conjunto de ruelas estreitas a bordo do seu camião TIR. Não conseguiu, obviamente. Acho que só eu seria capaz disso e talvez mais 2 ou 3 pessoas esquecidas pelo mundo. Na primeira curva que surgiu à sua frente, ficou logo ali entalado entre uma parede sinuosa e uma carrinha mal estacionada. Parada por detrás dele, seguia uma senhora a bordo do seu Fiat 500, tão fofo e tão branquinho que até metia inveja aos lençóis da minha cama. Mas, devido ao fumo negro que provinha do cano de escape do camião e que devido ao "estrangulamento" percorria as laterais do mesmo, entre a carroçaria e a parede, o branco do Fiat 500 depressa ameaçava ficar bege ou amarelo acastanhado, deixando a senhora claramente insatisfeita com toda aquela situação. Um pesadelo para qualquer boa patricinha que se preze. Não...não estava ninguém por detrás dela, e não, não quis recuar nenhum metro que fosse para deixar de levar com o fumo nas fuças. Lá à frente o camião fartava-se de buzinar, lá atrás fartava-se de buzinar o Fiat 500. Mais atrás seguia eu, a pé felizmente, com aquele sorriso que faço sempre quando vejo pessoas em apuros devido a um bloqueio momentâneo do cérebro e cujo juízo deve estar a gravitar algures entre a Lua e Marte. Sem mais delongas aproximo-me da traseira do camião (do lado sem fumo) e com o braço esquerdo bem esticado aponto o meu dedo indicador ao farol de marcha atrás bem redondinho, luminoso e branco, que já ameaçava queimar de tão quente estava por estar aceso. É nesse momento que a senhora percebe (percebeu?) que, afinal, o camião em vez de avançar queria mesmo era recuar (Ohhh quem diria!) para poder se libertar daquela encruzilhada e que as buzinadelas insistentes que se fartava de ouvir - e que julgava ser para o carro da frente - visavam alertá-la para esse efeito, pedindo-lhe amavelmente-tipo-tijolo-na-testa que recuasse  o seu veículo. A senhora decide recuar por fim. O pesadelo parecia estar em vias de terminar. Mas no exacto momento em que decide fazê-lo surge outro veiculo por detrás dela em velocidade e modo Schumacher, Tommi Mäkinen ou Sébastien Loeb, e espeta-lhe uma grande pantufada mesmo em cheio nas traseiras do seu carro. Minha nossa, pareceria um verdadeiro filme de terror se não fosse tão cómico de ver. Se eu fosse católico, naquela hora levantaria os meus olhos aos céus e questionaria a sanidade mental de Deus por ter patrocinado a vinda daquela gente ao mundo. Fiquei ali, tal e qual um espectador, absorvido pela sequência de cenas de cinema que não parava de surgir diante de mim, e até pensei assistir a mais alguns capítulos daquela embrulhada mas, da maneira como este povo tem propensão para arranjar encrencas cada vez maiores (e piores!!), tendo a capacidade de escavar ainda mais o fosso mesmo quando vêem que a situação deles já vai bem funda, temi pela minha segurança e, face à sorte que tenho tido ultimamente, receei que pudesse tornar-me parte do elenco e que a cena final daquela comédia viesse a ter também o meu cunho pessoal. Abandonei discretamente aquele cenário enquanto era invadido pelo pensamento profano e obscuro de que, se calhar, teria tido alguma responsabilidade naquilo que tinha acabado de acontecer. Mas quem me manda a mim querer ser prestável? E foi então ai que percebi. A verdade das coisas tinha acabado de surgir na minha mente como se de uma revelação se tratasse. Devo ser um espécie de Deus-Homem sobre a terra. Basta eu esticar o braço e apontar o meu dedo...e acontece logo uma desgraça.

2 comentários:

  1. O que eu já me ri...

    Lamento desapontar-te mas não és nenhuma "espécie de Deus-Homem sobre a terra". Eu sei, podia ter dito esta verdade de uma forma mais dócil para o choque ser menor...

    :)

    Beijos

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    1. Ok, admito que possa ter escolhido mal o termo. Talvez não seja "Deus-homem" mas sim "Homem-Deus"...
      Tens de compreender que é a primeira vez que me vejo nesta situação e ainda estou a tentar adaptar-me. :))

      Bjs

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A frase mais estúpida que poderá ser dita aqui é: "Para Pensador pensas pouco..."
A mais inteligente é: "És tão lindo Pensador..."