Bem, ontem apanharam-me num dia bom, formidável mesmo, e a conversa decorreu mais ou menos assim...
- Estou sim, bom dia...tenho o prazer de estar a falar com quem por favor?
- Com quem é que o senhor deseja falar?
- É do número 91XXXXXXX?
- Sim, está correcto, e o senhor é?
- Peço desculpas, não me apresentei. Sou o Arnaldo da empresa "Já-vais-ser-comido, Lda" e tenho boas noticias para si. Pode dizer-me o seu nome?
- Posso Sr Arnaldo da empresa "Isso-pensas-tu, Lda", mas se não sabe o meu nome...como é que sabe se as boas noticias são para mim?
- Hahaha...bem visto caro senhor! (merda, calhou-me um engraçadinho...). Bem, na verdade não sabia, apenas sei que na sua qualidade de proprietário do numero que estou a ligar isso faz de si automaticamente o destinatário das boas noticias.
- Ah! agora percebi...e que boas noticias são essas?
- Tenho o prazer de estar a falar com...?
- Francisco, Francisco o Pensador.
- Bom dia Sr Francisco, tal como já tinha dito represento a empresa "Estás-no-papinho, Lda" e tenho o prazer de lhe anunciar que o senhor acaba de ganhar uma colcha e uma capa de edredom que possuem um valor comercial total de 49,99 Euros.
- Eu?? a sério?? Eh pá, devo ser um tipo mesmo cheio de sorte...e qual é o "mas"?
- O "mas"? não percebi.
- Sim, o "mas" da história. Aquele que surge sempre depois de sabermos que ganhamos um fabuloso prémio de uma empresa que não conhecemos de lado nenhum. Aquele que diz...você ganhou mas...
- Sr Francisco, garanto-lhe que não há "mas" nenhum. O senhor só vai ter que dar-me algumas informações para eu poder preencher a sua ficha e reservar o prémio em seu nome e depois dirigir-se ao Hotel "É-aqui.que-vais-ser-comido" na cidade da Maia para poder levantá-lo.
- Ui? a sério? Só mesmo isso? Só vou ter que dirigir-me ao Hotel "Já-muitos-tentaram-e-ainda-ninguém-conseguiu" e só tenho que levantar o meu prémio sem ter que fazer mais nada?
- Exactamente Sr Francisco.
- Boa! Posso ir lá agora? Vivo a 2 minutos desse hotel e vou trabalhar daqui a uma hora, por isso, consigo dar lá um saltinho num instante e depois sigo para o meu trabalho.
- Calma, calma Sr Francisco, primeiro temos que preencher a sua ficha e combinar algumas coisas. Sabe que isto requer uma certa burocracia...
- Sim, sim...compreendo...que precisa de saber?
- Bem...pode dizer-me o seu nome completo?
- Posso, Francisco "Arrebenta-Cus" Pensador. (Nome falso)
- O Sr é casado?
- Sim, sou.
- Posso saber o nome da sua esposa?
- Sim, Angeline-Jolie-mas-não-é-aquela-do-Brad-Pitt. (Também um nome falso)
- Tem filhos Sr Francisco?
- Sim, 8 filhos. (hahahahahahahahahahahahaha....)
-
8 Filhos Sr Francisco???
- Pois...que quer Sr Arnaldo, cada vez que tentava fazer um...nasciam trigêmeos. Só os últimos é que foram gémeos, e não foram planeados...
- Mas está mesmo a falar a sério?
- Claro que estou! Porque haveria de brincar com isso?
- Bem...Confesso que é muito incomum ver uma família tão numerosa, dou-lhe os meus parabéns Sr Francisco.
- Obrigado Sr Arnaldo, é uma dor de cabeça mas tem valido a pena.
- Bem...Pode dar-me a sua morada completa?
- Claro, 89 Rua do Longe-mas-mesmo-muito-longe-da-minha-casa-e-é-tão longe-que-na-verdade-nem-sei-se-existe.
- Sabe o código postal da sua rua?
- Aquele código com muitos números?
- Sim, esse todo.
- Gostava de dizer-lhe mas nunca fui bom aluno de matemática. Na escola conhecia a tabuada até 5 e pouco mais.
- Não consegue memorizar 5 números?
- Quem eu? Fico com dores de cabeça só de pensar nisso.
- Não faz mal, eu depois procuro.
- Isso, obrigado. (Se o encontrar ofereço-lhe um porquinho...)
- Sabe dizer-me o seu número de contribuinte?
- Mais números??? Está a brincar?
- Não tem o seu cartão de cidadão consigo?
- Eu sei lá dessa porra, a minha mulher é que arruma tudo isso. Eu sou daqueles que perdem tudo.
- Bom, para já não é importante...mas quando for ao hotel com a sua mulher para levantar o seu prémio, pedia-lhe o especial favor de o levar consigo.
- Quando for com a minha mulher? Não posso ir sozinho?
- Bem...tem razão Sr Francisco, não lhe falei ainda sobre essa parte. A nossa empresa está a oferecer estes prémios aliciantes para dar-se a conhecer no mercado e captar a atenção das pessoas. Como tal, quando for levantar o seu prémio, alguns colaboradores lá presentes vão desejar conhecê-los melhor e saber a vossa opinião sincera sobre os nossos produtos para que possamos ter uma ideia mais concisa sobre o nosso real valor no mercado.
- E isso vai demorar muito tempo?
- Bem, Sr Francisco, poderá demorar alguns minutos. Não sei dizer, trinta minutos ou no máximo uma hora. Apenas o tempo suficiente para que o meu colega possa apresentar ao Sr Francisco e a sua esposa alguns produtos disponibilizados pela nossa empresa...
- Apresentar...? Espera ai! Não me diga que vou ter uma daquelas sessões onde a gente tem que se sentar numa mesa e depois um habilidoso qualquer tenta forçar-nos a comprar colchões, purificadores de água, aspiradores e essa treta toda??
- Não Sr Francisco, nós não forçamos as pessoas a comprar nada. Apenas queremos falar consigo e a sua esposa, mais nada.
- De certeza? Olhe que eu sou um tipo muito temperamental. Da última que tentaram fazer-me essa brincadeira, acabei por enervar-me e as coisas correram muito mal. O tipo foi parar ao hospital, percebe? Não gosto de ser tomado por lorpa! Se isto tem o propósito de fazer-me comprar coisas é melhor dizê-lo já, porque se eu chegar ao hotel e em vez do prémio houver colchões à minha espera...vou partir aquela merda toda!
- Tenha calma Sr Francisco, não é nada daquilo que você pensa. Garanto-lhe que somos uma empresa séria. Era apenas para ter uma conversa informal. Mas o Sr Francisco parece estar um pouco desconfiado sobre as nossas intenções e talvez seja melhor contactá-lo numa outra altura. Numa altura em que talvez esteja menos nervoso...
- Sim, acho que se calhar é realmente melhor fazer isso...(queria comer-me de cebolada mas agora já não lhe cabe um feijão, coitado...) mas então e o meu prémio? Ainda tenho direito a ele?
- Claro, claro...como é óbvio, mas talvez seja preferível contactá-lo daqui mais alguns dias, após o senhor conhecer melhor a razão de existência da nossa empresa e informar-se sobre a forma séria como trabalhamos bla bla blá bla bla blá...através de uns panfletos que vamos tratar de enviar-lhe pelo correio....bla bla blá bla bla blá...
- E depois vocês voltam a contactar-me?
- Sim, sim...Sr Francisco.
- Não vou perder o meu prémio?
- Não, não...Sr Francisco, esteja descansado.
- Bom...nesse caso, vou ficar a aguardar o vosso contacto. E até lá, olhe...muito obrigado por tudo! Você já conseguiu alegrar o meu dia.
- De nada, de nada...Sr Francisco. Adeus.
- Pois....Adeus e Faz Boa Viagem...hahahahaha
Que tristeza. A sério que ainda há gente que consegue cair nesse tipo de emboscada? Este país parece mesmo um "eldorado" para toda sorte de aldrabões e todo o género de cretinices. E eu continuo com esta maldita falta de sorte. Tanto lorpas por este país fora e tinham logo que telefonar para minha casa? Pensei que a sexta-feira 13 fosse só hoje mas já era de prever que comigo ela lembra-se sempre de vir mais adiantada. Um fabuloso prémio disse ele...que só devia mesmo ser suplantado pela "fabulosidade" do prémio que estava no Hotel à minha espera. Um prémio do caraças. O melhor da rifa. Daqueles que fazem chorar qualquer um ao fim do mês. A sorte do individuo é que eu estava num dia bom, porque se fosse noutro dia qualquer tinha-o mandado logo à merda. Já não tenho paciência...