O conto do vigário...

PV-123.png (302×302)


Bem, ontem apanharam-me num dia bom, formidável mesmo, e a conversa decorreu mais ou menos assim...

- Estou sim, bom dia...tenho o prazer de estar a falar com quem por favor?
- Com quem é que o senhor deseja falar?
- É do número 91XXXXXXX?
- Sim, está correcto, e o senhor é?
- Peço desculpas, não me apresentei. Sou o Arnaldo da empresa "Já-vais-ser-comido, Lda" e tenho boas noticias para si. Pode dizer-me o seu nome?
- Posso Sr Arnaldo da empresa "Isso-pensas-tu, Lda", mas se não sabe o meu nome...como é que sabe se as boas noticias são para mim?
- Hahaha...bem visto caro senhor! (merda, calhou-me um engraçadinho...). Bem, na verdade não sabia, apenas sei que na sua qualidade de proprietário do numero que estou a ligar isso faz de si automaticamente o destinatário das boas noticias.
- Ah! agora percebi...e que boas noticias são essas?
- Tenho o prazer de estar a falar com...?
- Francisco, Francisco o Pensador.
- Bom dia Sr Francisco, tal como já tinha dito represento a empresa "Estás-no-papinho, Lda" e tenho o prazer de lhe anunciar que o senhor acaba de ganhar uma colcha e uma capa de edredom que possuem um valor comercial total de 49,99 Euros.
- Eu?? a sério?? Eh pá, devo ser um tipo mesmo cheio de sorte...e qual é o "mas"?
- O "mas"? não percebi.
- Sim, o "mas" da história. Aquele que surge sempre depois de sabermos que ganhamos um fabuloso prémio de uma empresa que não conhecemos de lado nenhum. Aquele que diz...você ganhou mas...
- Sr Francisco, garanto-lhe que não há "mas" nenhum. O senhor só vai ter que dar-me algumas informações para eu poder preencher a sua ficha e reservar o prémio em seu nome e depois dirigir-se ao Hotel "É-aqui.que-vais-ser-comido" na cidade da Maia para poder levantá-lo.
- Ui? a sério? Só mesmo isso? Só vou ter que dirigir-me ao Hotel "Já-muitos-tentaram-e-ainda-ninguém-conseguiu" e só tenho que levantar o meu prémio sem ter que fazer mais nada?
- Exactamente Sr Francisco.
- Boa! Posso ir lá agora? Vivo a 2 minutos desse hotel e vou trabalhar daqui a uma hora, por isso, consigo dar lá um saltinho num instante e depois sigo para o meu trabalho.
- Calma, calma Sr Francisco, primeiro temos que preencher a sua ficha e combinar algumas coisas. Sabe que isto requer uma certa burocracia...
- Sim, sim...compreendo...que precisa de saber?
- Bem...pode dizer-me o seu nome completo?
- Posso, Francisco "Arrebenta-Cus" Pensador. (Nome falso)
- O Sr é casado?
- Sim, sou.
- Posso saber o nome da sua esposa?
- Sim, Angeline-Jolie-mas-não-é-aquela-do-Brad-Pitt. (Também um nome falso)
- Tem filhos Sr Francisco?
- Sim, 8 filhos. (hahahahahahahahahahahahaha....)
- 8 Filhos Sr Francisco???
- Pois...que quer Sr Arnaldo, cada vez que tentava fazer um...nasciam trigêmeos. Só os últimos é que foram gémeos, e não foram planeados...
- Mas está mesmo a falar a sério?
- Claro que estou! Porque haveria de brincar com isso?
- Bem...Confesso que é muito incomum ver uma família tão numerosa, dou-lhe os meus parabéns Sr Francisco.
- Obrigado Sr Arnaldo, é uma dor de cabeça mas tem valido a pena.
- Bem...Pode dar-me a sua morada completa?
- Claro, 89 Rua do Longe-mas-mesmo-muito-longe-da-minha-casa-e-é-tão longe-que-na-verdade-nem-sei-se-existe.
- Sabe o código postal da sua rua?
- Aquele código com muitos números?
- Sim, esse todo.
- Gostava de dizer-lhe mas nunca fui bom aluno de matemática. Na escola conhecia a tabuada até 5 e pouco mais.
- Não consegue memorizar 5 números?
- Quem eu? Fico com dores de cabeça só de pensar nisso.
- Não faz mal, eu depois procuro.
- Isso, obrigado. (Se o encontrar ofereço-lhe um porquinho...)
- Sabe dizer-me o seu número de contribuinte?
- Mais números??? Está a brincar?
- Não tem o seu cartão de cidadão consigo?
- Eu sei lá dessa porra, a minha mulher é que arruma tudo isso. Eu sou daqueles que perdem tudo.
- Bom, para já não é importante...mas quando for ao hotel com a sua mulher para levantar o seu prémio, pedia-lhe o especial favor de o levar consigo.
- Quando for com a minha mulher? Não posso ir sozinho?
- Bem...tem razão Sr Francisco, não lhe falei ainda sobre essa parte. A nossa empresa está a oferecer estes prémios aliciantes para dar-se a conhecer no mercado e captar a atenção das pessoas. Como tal, quando for levantar o seu prémio, alguns colaboradores lá presentes vão desejar conhecê-los melhor e saber a vossa opinião sincera sobre os nossos produtos para que possamos ter uma ideia mais concisa sobre o nosso real valor no mercado.
- E isso vai demorar muito tempo?
- Bem, Sr Francisco, poderá demorar alguns minutos. Não sei dizer, trinta minutos ou no máximo uma hora. Apenas o tempo suficiente para que o meu colega possa apresentar ao Sr Francisco e a sua esposa alguns produtos disponibilizados pela nossa empresa...
- Apresentar...? Espera ai! Não me diga que vou ter uma daquelas sessões onde a gente tem que se sentar numa mesa e depois um habilidoso qualquer tenta forçar-nos a comprar colchões, purificadores de água, aspiradores e essa treta toda??
- Não Sr Francisco, nós não forçamos as pessoas a comprar nada. Apenas queremos falar consigo e a sua esposa, mais nada.
- De certeza? Olhe que eu sou um tipo muito temperamental. Da última que tentaram fazer-me essa brincadeira, acabei por enervar-me e as coisas correram muito mal.  O tipo foi parar ao hospital, percebe? Não gosto de ser tomado por lorpa! Se isto tem o propósito de fazer-me comprar coisas é melhor dizê-lo já, porque se eu chegar ao hotel e em vez do prémio houver colchões à minha espera...vou partir aquela merda toda!
- Tenha calma Sr Francisco, não é nada daquilo que você pensa. Garanto-lhe que somos uma empresa séria. Era apenas para ter uma conversa informal. Mas o Sr Francisco parece estar um pouco desconfiado sobre as nossas intenções e talvez seja melhor contactá-lo numa outra altura. Numa altura em que talvez esteja menos nervoso...
- Sim, acho que se calhar é realmente melhor fazer isso...(queria comer-me de cebolada mas agora já não lhe cabe um feijão, coitado...) mas então e o meu prémio? Ainda tenho direito a ele?
- Claro, claro...como é óbvio, mas talvez seja preferível contactá-lo daqui mais alguns dias, após o senhor conhecer melhor a razão de existência da nossa empresa e informar-se sobre a forma séria como trabalhamos bla bla blá bla bla blá...através de uns panfletos que vamos tratar de enviar-lhe pelo correio....bla bla blá bla bla blá...
- E depois vocês voltam a contactar-me?
- Sim, sim...Sr Francisco.
- Não vou perder o meu prémio?
- Não, não...Sr Francisco, esteja descansado.
- Bom...nesse caso, vou ficar a aguardar o vosso contacto. E até lá, olhe...muito obrigado por tudo! Você já conseguiu alegrar o meu dia.
- De nada, de nada...Sr Francisco. Adeus.
- Pois....Adeus e Faz Boa Viagem...hahahahaha


Que tristeza. A sério que ainda há gente que consegue cair nesse tipo de emboscada? Este país parece mesmo um "eldorado" para toda sorte de aldrabões e todo o género de cretinices. E eu continuo com esta maldita falta de sorte. Tanto lorpas por este país fora e tinham logo que telefonar para minha casa? Pensei que a sexta-feira 13 fosse só hoje mas já era de prever que comigo ela lembra-se sempre de vir mais adiantada. Um fabuloso prémio disse ele...que só devia mesmo ser suplantado pela "fabulosidade" do prémio que estava no Hotel à minha espera. Um prémio do caraças. O melhor da rifa. Daqueles que fazem chorar qualquer um ao fim do mês. A sorte do individuo é que eu estava num dia bom, porque se fosse noutro dia qualquer tinha-o mandado logo à merda. Já não tenho paciência...

10 comentários:

  1. Ui, muito medo desse tipo de chamadas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Marta, antigamente também tinha...mas a partir do momento que deixei de me importar com aquilo que os outros pudessem pensar de mim, passei a viver mais confiante e feliz... :)

      Eliminar
  2. Como diria um amigo meu alentejano: " Texto muito bem esgalhado, lol"
    .
    * Fonte Divina de Amor Sentido *
    .
    Desejando um dia feliz.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa, obrigado! Só espero que seja como eu penso, de que está a fazer-me um elogio amigo Gil, caso contrário vou fazer uma cara de parvo por estar aqui a sorrir-lhe. :)

      Um dia feliz também para si.

      Eliminar
  3. Já me aconteceu, Francisco, na altura era uma pseudo-empresa ali para os lados do Fonte Nova, eu, que na altura até tinha um tempo livre resolvi ir só naquela de ver até que ponto enganam as pessoas. Por vezes é bom ver aquilo pessoalmente, como me disse um amigo: o que é preciso é descontracção e estupidez natural. Ora, munida da tal descontracção e estupidez natural fiz-me ao caminho, sem antes deixar de sobreaviso o meu pai e dois amigos para o caso de algo correr mal. Apenas digo se na altura eu tivesse um samartphone à mão, teria gravado tudo aquilo disfarçadamente. É digno de ver como é que aqueles 'senhores' funcionam quando percebem que não estão a conseguir enrolar/enganar a pessoa. São agressivos. Muito. Não aconselho. A pior em agressividade, era a dona daquilo, portanto uma mulher muito loira, muito tudo, muito assustadora na forma como intimidava. Quem diria, hein!

    (este diálogo do texto está muito bem cozinhado :))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Maria, sei bem do que essa gente é capaz e quão agressivos eles conseguem ser. Se falei do jeito que falei é precisamente por já conhecer de cor e salteado os efeitos dessa técnica de Marketing. No passado já fui convidado algumas vezes a pertencer a grupos desse tipo e recusei sempre. Nunca consegui encaixar-me em empregos nos quais tenho que ser actor e veja-me obrigado a ter que aldrabar as pessoas para vender as minhas coisas. O dinheiro, ao contrário do que se pensa, não justifica tudo. Cheguei a assistir também no passado a algumas reuniões desse tipo e ainda tive a sorte de levar algumas morcelas, chouriças e presuntos para casa. Dizia sempre que não queria nada mas nunca negava a minha oferta. A melhor táctica era mesmo essa que dissestes, temos que fazer-nos de burros de modo a darmos o ar de quem não consegue perceber a magnificência daquilo que está a acontecer à nossa frente. E se a gente disser que vivemos do rendimento mínimo garantido, então é que eles nos despacham num instante hehehe
      É evidente que eu nunca fui agressivo em nenhuma dessas reuniões, só estava a divertir-me um pouco. Como disse no post, estava num daqueles dias... :))

      Boa noite Maria.

      Eliminar
  4. Caro Francisco
    De vendas de utensílios nunca assiste a nenhum... agora de oferta de semanas de ferias dessas assisti nunca + de 15 / 20 minutos, e já gozei assim uma boa dezena delas no Algarve, Madeira e Marbelha, quando a sala esta cheia se falarmos mais alto a dizer que nos mentiram e outras coisas despacha-nos logo e se tivermos miúdos pequenos deixa los soltos e só dar-mos atenção as crianças e não ligar ao que o chato do vendedor diz é rápido..e com prémio seguro..

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boas tácticas Kique, acho que nunca me teria lembrado de fazer isso. Optei sempre por dizer que estava desempregado há 20 anos (sem receber) ou a viver do rendimento mínimo garantido. Sabia que nenhuma empresa tem interesse em negociar com "pés descalços" hahahaha porque se a coisa correr mal lá se vai o colchão e o dinheiro, mas reclamava sempre a minha oferta, caso contrário, ameaçava chamar a policia por estarem a fazer publicidade enganosa. Sei que as coisas ainda devem funcionar dessa forma mas, para dizer a verdade, já nem um presunto consegue seduzir-me para ficar uma hora a aturar esses gajos. Acho que devo estar a ficar velho... :)

      Abs

      Eliminar
  5. Lá se foram os lençóis, ahahahahah

    Só tu para me fazeres rir.

    Beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Peço desculpa...lá se foi a colcha e a capa de edredom com um valor comercial total de 49,99 Euros...
      Se tivessem sido lençóis, certamente que teria ido à reunião e levava mulher, filhos, sogra e tudo! :)))

      Bjs e bom domingo.

      Eliminar

A frase mais estúpida que poderá ser dita aqui é: "Para Pensador pensas pouco..."
A mais inteligente é: "És tão lindo Pensador..."